domingo, 17 de abril de 2011

- John Steinbeck em As Vinhas da Ira:

Tom sentou junto ao fogo. Apertou os olhos num gesto de concentração mental e logo começou a escrever, vagarosa e cuidadosamente, desenhando letras bem graúdas. - "Este qui aqui jaz é William James Joad qui morreu di um ataque já muito velho e a família dele enterrou ele aqui purque não tinha dinheiro pro funeral. Ninguém matô ele só qui ele teve um ataque e morreu."
- Mãe, escuta. - E leu vagarosamente o que tinha escrito.
- Está bem, até que não soa mal - disse ela. - Mas cê não podia escrever aí alguma coisa da Bíblia, hem? É pra ser um enterro religioso. Procura um pedaço bonito da Bíblia e escreve no papel também.
- Sim, mas não pode ser uma coisa comprida, porque não dá. O papel é muito pequeno.
Sairy disse:
- Que tal isto: "Que Deus guarde a sua alma"?
- Não - disse Tom. - Isso soa como se ele tivesse sido enforcado. Deixe que eu vou ver se copio um pedaço qualquer da Escritura. - Foi virando as páginas, leu, movimentando os lábios, murmurando baixinho. - Aqui tem um pedaço bonito e bem curto - falou, afinal. - "E Lot disse-lhe: Oh, não é assim, Senhor."
- Mas isso não quer dizer coisa nenhuma - disse a mãe. - Já que ocê tá escrevendo, escreve qualquer coisa que tenha sentido.
Sairy disse:
- Veja nos Salmos, mais adiante. Nos Salmos sempre se encontra alguma coisa.
Tom foi folheando e lendo os versículos.
- Aqui tem um - disse. - É bonito e bem religioso: "Bem-aventurados aqueles cujas iniqüidades são perdoadas e cujos pecados são esquecidos." Que tal?
- Este, sim. É bonito mesmo - disse a mãe. - Pode escrever.




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