terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

- Clarice Lispector em Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres:

"Sentou-se diante do papel vazio e escreveu: comer - olhar as frutas da feira - ver cara de gente - ter amor - ter ódio - ter o que não se sabe e sentir um sofrimento intolerável - esperar o amado com impaciência - mar - entrar no mar - comprar um maiô novo - fazer café - olhar os objetos - ouvir música - mãos dadas - irritação - ter razão - não ter razão e sucumbir ao outro que reivindica - ser perdoada da vaidade de viver - ser mulher - dignificar-se - rir do absurdo de minha condição - não ter escolha - ter escolha - adormecer - mas de amor de corpo não falarei.

Depois dessa lista ela continuava a não saber quem ela era, mas sabia o número indefinido de coisas que podia fazer."