quarta-feira, 14 de setembro de 2011


- John Steinbeck em A Pérola:

"Olhando-o em segredo, Juana viu-o sorrir. E, porque eles eram de algum modo uma só pessoa e uma só intenção, ela sorriu com ele.

E os dois começaram aquele dia com esperança."



segunda-feira, 18 de abril de 2011

- John Steinbeck em As Vinhas da Ira:
(Post II)


Nos mundos, a conduta social tornou-se rígida e fixa, de maneira que um homem tinha de dizer "bom dia" quando o cumprimento lhe era exigido; um homem podia viver com uma pequena e, se quisesse ficar com ela, teria de protegê-la e proteger-lhe os filhos. Mas um homem não podia ter uma mulher numa noite e outra na noite seguinte, pois que tal coisa viria pôr em risco os mundos.

(...)

Governos eram formados, governos com líderes e anciãos. Um homem inteligente descobria logo que sua inteligência era de utilidade nos acampamentos; um homem ignorante não conseguia impor sua ignorância ao mundo. E uma espécie de seguro desenvolvia-se nessas noites. Um homem que tinha o que comer alimentava outro que nada tinha, e dessa maneira assegurava comida para si próprio para quando suas reservas se esgotassem. E quando uma criança morria, uma pequena pilha de moedas juntava-se à porta da tenda dos pais, pois que uma criança tem que ter um enterro condigno, já que nada obteve na vida. Um adulto podia ser sepultado em vala comum; uma criança, nunca.

domingo, 17 de abril de 2011

- John Steinbeck em As Vinhas da Ira:

Tom sentou junto ao fogo. Apertou os olhos num gesto de concentração mental e logo começou a escrever, vagarosa e cuidadosamente, desenhando letras bem graúdas. - "Este qui aqui jaz é William James Joad qui morreu di um ataque já muito velho e a família dele enterrou ele aqui purque não tinha dinheiro pro funeral. Ninguém matô ele só qui ele teve um ataque e morreu."
- Mãe, escuta. - E leu vagarosamente o que tinha escrito.
- Está bem, até que não soa mal - disse ela. - Mas cê não podia escrever aí alguma coisa da Bíblia, hem? É pra ser um enterro religioso. Procura um pedaço bonito da Bíblia e escreve no papel também.
- Sim, mas não pode ser uma coisa comprida, porque não dá. O papel é muito pequeno.
Sairy disse:
- Que tal isto: "Que Deus guarde a sua alma"?
- Não - disse Tom. - Isso soa como se ele tivesse sido enforcado. Deixe que eu vou ver se copio um pedaço qualquer da Escritura. - Foi virando as páginas, leu, movimentando os lábios, murmurando baixinho. - Aqui tem um pedaço bonito e bem curto - falou, afinal. - "E Lot disse-lhe: Oh, não é assim, Senhor."
- Mas isso não quer dizer coisa nenhuma - disse a mãe. - Já que ocê tá escrevendo, escreve qualquer coisa que tenha sentido.
Sairy disse:
- Veja nos Salmos, mais adiante. Nos Salmos sempre se encontra alguma coisa.
Tom foi folheando e lendo os versículos.
- Aqui tem um - disse. - É bonito e bem religioso: "Bem-aventurados aqueles cujas iniqüidades são perdoadas e cujos pecados são esquecidos." Que tal?
- Este, sim. É bonito mesmo - disse a mãe. - Pode escrever.




terça-feira, 22 de março de 2011

- José Saramago em O Conto da Ilha Desconhecida:

"(...) o sonho é um prestidigitador hábil, muda as proporções das coisas e as suas distâncias, separa as pessoas, e elas estão juntas, reúne-as, e quase não se vêem uma à outra, a mulher dorme a poucos metros e ele não soube como alcançá-la, quando é tão fácil ir de bombordo a estibordo.
Tinha-lhe desejado felizes sonhos, mas foi ele quem levou toda a noite a sonhar."

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

- José Saramago em O Homem Duplicado:

A Tertuliano Máximo Afonso talvez não lhe importasse chegar a ser árvore, mas nunca o há-de conseguir, a sua vida, como a de todos os humanos vividos e por viver, não experimentará jamais a suprema experiência do vegetal. Suprema, imaginamos nós, que até agora a ninguém foi dado ler a biografia ou as memórias de um carvalho, escritas pelo próprio. Preocupe-se pois Tertuliano Máximo Afonso com as coisas do mundo a que pertence, este de homens e de mulheres que vozeiam e alardeiam por todos os meios naturais e artificiais, e deixe os arbóreos em sossego, que a eles já lhes sobram as pragas fitopatológicas, a serra elétrica e os fogos florestais.



segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

- V. S. Naipaul em Uma Casa para o Sr. Biswas:

- Nunca lhe ensinaram higiene na escola? Arroz, batata. Só amido, essa porcaria. - Bateu na própria barriga. - Você quer que eu inche até explodir? - Ao ver Shama, sua depressão virou raiva; porém ele falava em tom de gozação.
- Eu sempre respondo - disse Shama - que você só pode reclamar quando você mesmo é que comprar a sua comida.
Ele foi até a janela, lavou as mãos, gargarejou e cuspiu.
Alguém gritou lá de baixo:
- Ei! Você aí em cima! Olhe o que você fez!
- Eu sabia, eu sabia - disse Shama, correndo até a janela. - Sabia que isso ia acabar acontecendo mais dia, menos dia. Você cuspiu em alguém.
Ele olhou pela janela, interessado.
- Quem foi? A raposa velha ou um dos deuses?
- Você cuspiu no Owad.
Ouviram o deus se queixando.
O Sr. Biswas encheu a boca de água mais uma vez e gargarejou. Então, com as bochechas infladas, esticou-se para fora o máximo que pôde.
- Não pense que eu não estou vendo - gritou o deus. - Estou vendo o que o senhor está fazendo. Mas vou ficar parado aqui e, se cuspir em mim, vou contar para a mamãe, sr. Biswas.
- Pois conte, seu filho da puta - murmurou o sr. Biswas, e cuspiu.