quarta-feira, 27 de junho de 2012


- Jostein Gaarder em O Castelo nos Pirineus:

"Nem todas as garotas de vinte anos têm essa capacidade de imaginar a ausência de sua própria existência, pelo menos não com tanta intensidade. Mas isso passou a ser o nosso ponto de referência quase cotidiano. Não era à toa que nos arrojávamos nas mais frenéticas aventuras. No fim, eu já não precisava perguntar por que você estava chorando. Eu sabia por quê, e você sabia que eu o sabia. Então eu propunha passear nos bosques ou nas montanhas. Foram muitas as nossas excursões alentadoras na floresta ou nos ermos. Você adorava o contato com a natureza. Mas esse seu amor pelo que às vezes chamava de "natureza total" era, de certo modo, uma paixão infeliz, pois você sempre soube que um dia seria traída por aquilo que tanto amava e, em última instância, ia ficar na mão.

Era assim. Você oscilava entre o riso e o pranto. Sob a fina camada da fervorosa alegria de viver, o que havia lá dentro era tristeza. Comigo ocorria o mesmo. Nós éramos parecidos. Mas creio que a sua tristeza era mais profunda que a minha. Assim como o seu entusiasmo e o seu encanto."