quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

- García Marquez em Memórias de Minhas Putas Tristes:

Tinha uns olhos de gata fujona, um corpo tão provocador com roupa ou sem, e uma cabeleira frondosa de ouro alvoroçado e cuja emanação de mulher me fazia chorar de raiva no travesseiro. Sabia que nunca chegaria a ser amor, mas a atração satânica que exercia sobre mim era tão ardorosa que tentava me aliviar com tudo que era dama da vida de olhos verdes que encontrava no meu caminho. Nunca consegui sufocar o fogo de sua lembrança na cama de Pradomar, e assim entreguei-lhe minhas armas, com pedido formal de mão, troca de anéis e anúncio de boda antes de Pentecostes.

2 comentários:

ed soares disse...

os noivados fantásticos de gabriel...


deu vontade releituras...

Moreno disse...

Esse personagem se orgulhava de nunca ter tocado em uma mulher sem lhe pagar devidamente, aos 90 anos. Ele tratava o sexo como um afazer necessário e prazeroso, acredito eu, parecido com ter de ir á padaria pra comer pães. Mas nada além. Nada mitológico. E queria ter uma virgem no seu aniversário de 90 anos, como quem contrata uma stripper pruma despedida de solteiro.Ou menos ainda, como quem compra uma roupa nova pra uma ocasião especial, Ou realiza um jantar pra comemorar um dia. Ele queria uma virgem por puro capricho.Aos 90 anos.

O personagem,pra mim, é a antítese de qualquer idéia de romance, alguém que sempre foi incapaz de amar e de ser amado,mas sexualmente satisfeito, por assim dizer. E o fato dele se apaixonar por uma prostituta adolescente, aos 90 anos, separa o "sexo" do "amor" definitivamente na narrativa. À grosso modo, o personagem só conheceu o amor quando não podia mais fazer sexo.

Eu, particularmente, acho que que amor e sexo não são a mesma coisa, mas se interelacionam íntimamente. Existe amor sem sexo, existe sexo sem amor, mas não dá pra passar a vida só com um dos dois. Ou separando os dois à força, quando querem estar juntos.

Por que como o livro mostra, por mais que vc não os deixe ocupar o mesmo lugar na sua vida, um pode tomar o lugar do outro quando você não estiver olhando.

:*

P.S: Pra ouvir: "Amor e sexo", de Rita Lee e Arnaldo Jabor.